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Foto do escritorMichel Luiz

TOD - O Transtorno Indefinido Moderno

Pseudociência: Como capturar famílias que sentem medo ou culpa, para o capitalismo? Quais as demandas de poder e controle sobre o outro as práticas clínicas têm se utilizado para amedrontar a população e lhes vender medicações e terapias pseudocientíficas? Uma análise geral sobre os novos transtornos mentais e como reconfigurar a identidade do medo e da opressão diante de tanta desinformação utilizada como "saber clínico":



O diagnóstico no âmbito da infância tem sido algo recente, por regularidade estatística e não por função de prejuízo ou trauma formalizado em uma desordem, ou transtorno. Pois transtorno não é uma doença como conveniado à doença médica, tratada sobre uso de medicações. Transtornos estão voltados às patologias da disfunção da personalidade, ou desempenho cognitivo ou aprendizado.

 

Os contextos laborais escolares, familiares e sociais, buscam entender a criança dentro de um âmbito do que é ser comum e normal. Não encontrando uma regularidade sobre comportamentos que deveriam ser “comuns” para todas as crianças, ignoram os principais aspectos de vínculo familiar e social que uma criança apreende enquanto está desenvolvendo suas características de personalidade, comportamentos e compreensão do mundo onde nascem e vivem. Diferente do TEA – Transtorno do Espectro Autista – o TOD, ou o Transtorno de Déficit de Atenção (TDA, com ou não Hiperatividade); não se vinculam quimicamente com o cérebro e desencadeiam traumas físicos na massa encefálica. Ou seja, não há como prever uma medicação para um transtorno, uma vez que este não se enquadra como doença ou espectro, vinculados a algum fenômeno cerebral/físico.



Até mesmo o TEA em suas subcategorias de transtorno ou lesão cerebral, não se encontram evidências para o uso de medicação quando o espectro é visto abaixo do limite que caracterizaria uma lesão no cérebro e a necessidade de real uso de medicações químicas para compensar o quadro de desenvolvimento de um portador do trauma.

 

Mas o que seria um transtorno, ou mesmo um não-transtorno? Estaríamos construindo taxionomias de objetos físicos, ou diagnósticos clínicos? Em poucos anos, menos do que décadas, sintomas foram recriados a partir do DSM, utilizado pela psiquiatria e psicologia moderna para diagnósticos suspeitos. Minha maior suspeita é a de uma tentativa de formar patologias através dos vínculos afetivos das pessoas em seu âmbito familiar e social, caracterizando uma ampla necessidade de um cuidado “vago”. Por “cuidado vago”, me refiro a necessidade de controle da visão hospitalar sobre como conduzir uma sociedade na busca de um “ideal comum”, inexistente. Essa necessidade então, toma controle através de amplos diagnósticos, uso de medicamentos ainda em fase de testes, modelações de uma grade normativa das escolas; transformando o sujeito dependente de usos químicos para sentir bem ou satisfeito, e não encontrando em si, a dissolução de seus traumas que formam seus comportamentos atípicos, tais como agressividade ou tendência depressiva.

 

Em menos de 20 anos, o Manual de Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais (DSM em sua sigla em inglês mais comum utilizado), sofreu amplas reformas de linguagem, mas não de conduta da estrutura que analisa sobre os transtornos que busca identificar em sua “sociedade normativa”. O DSM atualiza como um novo aparelho celular:

Sem aparente mudança nos conjuntos internos de funcionamento, mas com imensa mudança estética para agradar os olhares dos novos consumidores. Na última década, o TOD fora chamado de “transtorno explosivo intermitente” e “transtorno de luto persistente”, outrora de “disfórico menstrual”. Apresentavam sintomas gerais, mas nada individualizado para uma pessoa que cresce e compreende o mundo. A patologização das relações humanas, pois os inconformados com a vida que levam, são vistos como anormais, logo, desafiam a “regra” estabelecida para uma sociedade. Mas o estranho disso é que não se percebe a cultura da pessoa e como ela de adapta e normaliza.


Muitas pessoas realmente precisam de uma medicação para suprir o déficit de algum “sal-mineral” em seus cérebros. Porém, acreditar que quaisquer rupturas do comportamento sejam de fato, síndromes neurais que necessitam ser medicadas, exclui a diversidade cultural e aprendizado familiar que a maioria das crianças e adolescentes passam em sua fase de desenvolvimento e, futuramente, repetição de ciclo apreendido. Uma vez que um sujeito em sua fase infantil cresce em um ambiente que o sustenta, mas oferta gritos, explosões emocionais, disruptura de vínculos afetivos e substâncias, tais como café ou açúcar, para “mascarar” a crise depressiva desses sujeitos; veremos crianças que não estão numa fase do entendimento de si mesmas enquanto cidadãos, formularem e reproduzirem comportamentos agressivos que apreenderam dentro de sua casa. Um problema tão grave que, atualmente se sabe que pessoas das quais cresceram em ambiente altamente vulnerável e sem adequação alimentar, sofrem perdas do desenvolvimento da Hipófise e Hipotálamo de tal forma que reproduzem comportamentos de “perda do sentido da vida”, ou personalidade depressiva e sem vontade de aprendizado enquanto adultos.



É comum que em famílias que sofreram da separação de algum parente familiar, tais como pais ou mães, aquele familiar que se torna o responsável pela criança em maior tempo de convivência, teça para ela discursos e narrativas de como “o mundo funciona”, “como tal pessoa é cruel e abandona” ... E situações atravessadas por violência que levam a criança para a alienação ao discurso dos pais. A criança passa a se adequar a como a extensão de si, o responsável familiar, e o conflito interno simbolizado produzido em suas questões de não concordar com o que ouve, se torna comportamento geral dessa pessoa. A privação afetiva causa traumas de ordens ansiosas ou depressivas na vida da criança. Isso se configura como um abuso, pois o abuso não se dá só no plano físico, como também no psicológico e os sofrimentos que pioram quando a criança aprende que “ser agressivo é ser normal”.

 

A oposição e o comportamento desafiante têm sim, um problema geral sobre a concentração e aprendizado. Mas como saberemos se isso tem a ver com o hiperfoco causado na industrialização das medicações, uso de telas, ou mesmo com a identidade escolar que busca uma forma comum para todas as crianças? Uma massificação geral das categorias da infância, que dissimula a história de cada família e suas formas de sobreviver e manter uma moral que acreditam ser o ideal de seus lares. Quais os reais prejuízos nas pessoas?

Um dos prejuízos que o DSM assimila é o funcional: algo que incorpora a lógica do lucro, emprego, produção e continuidade no mercado de trabalho. Ou seja, pessoas que estão em vínculos empregatícios que massacram sua saúde mental, são vistas como rebeldes e opositoras ao sistema, logo, anormais. Mas questionar o sistema que oprime as pessoas em seu âmbito de trabalho, é também visto como oposição e não adequação. Será mesmo o trabalho um fenômeno tão puro e real que nenhum humano que se sinta bem no exercício de um trabalho humilhante, possa questionar este sistema?

 

Vejamos o que caracteriza o TOD: humor raivoso e irritável, comportamento questionador e desafiante, com índole vingativa durante 6 meses. Com categorias que sejam exibidas com pessoas que “não seja com um irmão”. Com frequência perde a calma e é sensível e facilmente incomodado, raivoso ou ressentido. Intervir contra a cultura, dizer que discorda com visões que impulsionam algo estranho, questionar autoridades frequentemente... Incomoda pessoas com frequência, não aceita que alguém fique quieta. Culpa os adultos pelos males comportamentos que são dos adultos. É malvado e vingativo por pelo menos 2x nos últimos 6 meses. Persistência nesses comportamentos caracterizam o transtorno opositor e desafiador. Falta de calma e fatores intensivos fora duma faixa normativa do desenvolvimento são observações para este transtorno na infância – DSM atual de 2024.



Sinceramente, quem não passa por questões como essa em alguma fase da vida? Ideologias que causam fissões e estereótipos de gênero e comportamento, mas não apresentam a experiência de conflito que as crianças passam e sofrem impactos dentro do âmbito familiar ou social, tais como nas escolas. Convenhamos que muitas poucas famílias ou escolas estão preparadas para desenvolver um pleno ambiente afetivo e normal para as crianças. Quanto mais dizer que o indivíduo deveria ser normal. Já se perguntou sobre uma renovação que poderia se dar quando um aspecto ruim é questionado pelo adolescente que observa nas autoridades um ciclo violento e não ideal para a cultura que buscam crescer?

 

Deveríamos detectar problemas de atenção e impulso, excluir e não ensinar sobre uma nova forma de conceber o mundo, levando da escola para a cadeia? Crianças que não entendem sua dimensão social, causam um trauma social na estrutura através da crítica que não sabem simbolizar: transformam em brigas, quebras de patrimônio e infrações, falam bobagens, questionam os limites da sociedade. Mas a Lei pune e não compreende que estamos aqui para aprender. Quando há uma questão, há a vontade de compreender o mundo. Crianças e adolescentes não sabem direcionar sua fala e muitas das vezes são oprimidos e silenciados em casa diante de agressões verbais e físicas. Daí questionam através do corpo, repetindo o ciclo agressivo que apreenderam dos adultos: quebrando, gritando, explodindo. Será mesmo que são as crianças que precisam de uma radical mudança e uso de remédios? A resistência de uma criança, para mim, significa mais um processo de reconhecimento da Vida do que uma massa que repete comportamentos que os próprios familiares não o têm. A angústia é a extra vazão dos impulsos e o aprendizado é o cuidado que devemos ofertar para a nova geração.



Escutar o relato, escutar os familiares, a criança, escutar o que não é dito nas descontinuidades da pessoa diante do mundo em que vive... Essas são as chaves para reconhecer as neuroses e delírios que causam imensa dor e desconforto nas crianças e nas próprias famílias que condicionam a uma falsa realidade de como devem ser as pessoas diante da sociedade. É complexo, imagina para a criança que não aprendeu uma forma diferente de ser e estar no mundo? Não entre em apenas um mesmerismo de como deve ser o tratamento de uma pessoa agressiva, procure. Conheça! Podemos construir pontes e não muros para as novas gerações e para nós mesmos enquanto servos involuntários das engrenagens capitais.

 

Leitura recomendada para questões emocionais e de vínculos sociais que causam transtornos "destrutivos":



Recomendo para você, leituras voltadas para o âmbito da psicanálise, da saúde mental e os conjuntos sociais que afetam e são afetados pela nova normalidade do adoecimento humano. As neurociências têm trazido inúmeras contribuições da psicanálise da Psicologia Analítica de volta à tona, uma vez que compreenderam que “nem só de química se constroem cérebros, afetos e pessoas”. Por essa razão, indico na literatura moderna estes livros e artigos:

 

“Quatro Maneiras de Como a Pobreza pode Afetar o Cérebro” – BBC, 4 de Junho de 2017: https://www.bbc.com/portuguese/geral-40136177#:~:text=Ao%20analisar%20os%20resultados%2C%20Shafir,quociente%20de%20intelig%C3%AAncia%20(QI).

 

Patologia do Social – por Vladimir Safatle, Nelson da Silva Júnior e Christian Dunker – 2018.

 

Neoliberalismo como Gestão de Sofrimento Psíquico (apud cit.).

 

Imagens do Inconsciente – por Nise da Silveira – Publicado em 2015.

 

Mal-estar Sofrimento e Sintoma – por Christian Dunker – 2015.

 

Uma Biografia da Depressão (apud cit.).

 

Elogio à Rebeldia – Revista Cult: https://revistacult.uol.com.br/home/elogio-rebeldia/

 

Territórios em Rebeldia – Escritas do autor Raúl Zibechi ao site Nigra Koro: https://nigrakorodistro.com/produto/territorios-em-rebeldia/






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